segunda-feira, 26 de abril de 2010

VIDA LOUCA

Hoje acordei com vontade de vos falar sobre a Costa Alentejana ou Costa Vicentina como lhe queiram chamar. Até porque o Vicente devia ser um sujeito às direitas.
No Alentejo, tudo se passa e ao mesmo tempo não se passa nada. Em plenas férias de Verão, a vida no Alentejo é complicada e dura. Vou contar como é um dia aqui nestes belos sopros alentejanos: ora uma pessoa levanta-se de manhã, pelas 11h, toma um pequeno-almoço ainda em inércia, fixando, atentamente, o verso da caixa de cereais; sai de casa “checkando”, atentamente, se leva tudo o que necessita para passar um bom dia na bela praia do malhão. Creme, chapéu-de-sol, toalha, e claro que falta sempre o “comer”. Este compra-se no largo dos caeiros, um belo largo que fica no Cercal do Alentejo. Todos olham, os habitantes desta zona nunca viram uma pessoa num Lupo 2001, olham como nunca olharam para ninguém. Compramos belas sandes de manteiga em pão-de-leite e metemo-nos à estrada. Passamos pela Tanganheira, pelas Brunheiras e chegamos à bela da praia. Praia esta com diferentes tipos de gente.
Enfim, passa-se um bom dia, muito calor, água a temperatura agradável se bem que existe sempre um choquezinho térmico ao início mas nada de grave.
Passadas algumas horas começamos a notar que “está-se bem” é em casa, bebendo uma boa mini, tomando banho de mangueira, entre outras e variadas actividades.
No largo dos caeiros existem vários personagens que merecem ser aqui referidos: temos o super Mário, um homem robusto, musculado (embora tendo 1,20m), moreno e caixa de óculos, trabalha na pastelaria “Baú Doce”. Penso que ele seja um bocado “sensível”. Temos também o António Albernaz, o responsável pela bomba de gasolina, escuro, com as mãos calejadas, e grande apreciador de minis. O senhor Mim, mecânico, sempre com o seu macacão, um homem que gosta de trabalhar tanto que deixei lá uma mota para arranjar o pedal e durante um mês ele nem “le” tocou.
O grande Zé Naia, outro mecânico, mas este trabalha mesmo, deixei lá o carro noutra altura para arranjar o pára-brisas e passado um mês ele… nem “le” tocou.
Quando estamos a caminho de casa costumamos sempre averiguar quem frequenta o Café Stop àquelas horas. Existem várias personagens que também gostava aqui de ilustrar: o Rosando, barrigudo, um homem daqueles a que chamamos Tugas, com barriga de cerveja e barba por fazer; o Zeca, o verdadeiro embriagado que depois de cada toscaria vai a cantar para casa e fala com os portões das cancelas, desconfio que sejam os melhores amigos; o Cota, um refugiado político da segunda guerra mundial, um verdadeiro intelectual, muito culto, cheio de erva na cabeça; o Florival Rodas-Baixas, um anãozinho e anafado; o Fernando, mais conhecido por Zim Berlim, é zarolho.
É tudo gente muito interessante, com muito para dar á sociedade: muito feno, muito trigo e muita carne. A vida deles é uma verdadeira montanha russa: sempre dum lado para o outro, sempre ocupados. Sim, porque tirar a mini do frigorífico, contemplá-la, ir buscar o “abre-cricas” e abrir a garrafa dá trabalho, não pensem.
Existem várias expressões que os alentejanos usam aqui. A maior parte delas eu não percebo: “Granda pastilha”, “Onde está aquele Matias?”, Vou já ensperar um pêssego”, “Quer é encravá-lo” (não comento), “Vou esporrear um frango” (também não comento)” entre muitas outras e variadíssimas expressões.

É de referir também que na costa alentejana também existem lojas dos chineses com características um tudo ou nada interessante. Os proprietários da loja, aqueles senhores de olhos em bico são lentos como os habitantes daqui; têm uma grande variedade de corta-unhas da hello kity; uma gama variadíssima de “Gellettes 3”. O slogan destas giletes são engraçados confesso: “ Com Gellettes 3, é f**** fazer a barba ao chinês”. Enfim, são opções.
Existe uma venda aqui perto. Uma venda cuja proprietária se chama dona assunção. Uma mulher de 1,30m, cabelo branco, idosa, com buço. Um belo buço, diga-se de passagem. Dava para fazer um tapete persa lindíssimo. Era capaz de dar dinheiro, juro-vos. A vida aqui é pacata, está-se bem no Alentejo, não existem preocupações, a mini custa 20 cêntimos, tudo está ao alcance da população, no fundo: "HAKUNA MATATA". São tudo razões e motivos porque eu gosto de estar aqui, escreve-se bem, é vida louca. GC

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